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Reflexões sobre a Surah Al-Fatiha (parte 3 de 3)

Avaliação:

Descrição: Uma interpretação dos versículos mais recitados do Alcorão Sagrado. Parte 3: Explicação dos três últimos versículos que pertencem à uma promessa feita a Allah e uma súplica por parte do homem nas palavras que o próprio Deus, em Sua grande misericórdia, ensinou ao homem pedir.

Por Imam Mufti

Publicado em 06 Dec 2019 - Última modificação em 25 Jun 2019

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Objetivo

·Aprender versículo por versículo a explicação dos últimos versículos da Surah al-Fatiha.

Termos em árabe

·Surah - Capítulo do Alcorão.

·Tawhid – A Unidade e Unicidade de Allah, no que tange Sua soberania, Seus nomes e atributos e Seu direito de ser adorado.

·Shirk – Palavra que significa associar parceiros a Allah, conceder atributos divinos a alguém que não seja Allah; ou acreditar que a fonte de poder, dano e bênçãos vem de alguém que não seja Allah.

5. Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda

Reflections_on_Surah_al-Fatiha_(part_3_of_3)_001.jpgEsse versículo carrega a essência do Islam: Tawhid. Todos os profetas, de Adão a Moisés, Jesus e Muhammad, foram enviados para transmitir a mensagem central: adorar somente a Deus, que não tem filho ou parceiro. Este é o significado do primeiro testemunho de fé: La illaha illa Allah. É o propósito singular da criação. Tawhid é salvação e devemos transmitir a sua mensagem a nossos amigos e familiares. Nenhum ser humano chega nem perto de se tornar Seu parceiro e mudar Suas decisões. O desvio nesta questão é fatal para o bem-estar espiritual.

Qual 'adoração' estamos prometendo somente a Allah:

Essa é uma palavra abrangente, que inclui a forma com que a pessoa lida com Allah na forma de atos devocionais rituais, como as cinco orações diárias ou o jejum, bem como as relações com outros seres humanos, como família e amigos. Atos físicos comuns realizados pelos membros, como sorrisos e emoções intensas, como amor, esperança e medo, incidem em seu campo (da adoração). Deus é adorado na obediência das Suas ordens, na abstenção daquilo que Ele proibiu. Adoração é toda expressão e ação, aparente ou oculta que Allah ama. Em termos simples, todo ato agradável a Deus é um ato de adoração no Islam. Allah tem o direito de ser adorado pelo corpo, alma e coração e ela permanece incompleta a menos que seja feita por reverência e temor a Ele, amor e adoração divinos, esperança na recompensa divina e extrema humildade. Dar a qualquer outra pessoa - profetas, anjos, Jesus, Maria, ídolos ou natureza - uma parte da adoração devida à Allah chama-se Shirk e é o pecado mais grave no Islam.

A humildade é um ingrediente essencial da adoração e não há melhor maneira de se aproximar do Senhor dos mundos do que através dela. Uma pessoa orgulhosa por sua devoção pessoal bloqueia seu próprio caminho para o Senhor do Poder. A adoração deve nos tornar mais humildes. O Profeta Muhammad, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, ensinou a admitir autodeficiência, fragilidade e iniquidade diante do Senhor Magnífico, dizendo:

“Ó Allah, prejudiquei grandemente minha própria alma, e ninguém perdoa pecados, exceto Tu, então conceda-me Teu perdão e tenhas misericórdia de mim. Na verdade, Tu és o Perdoador, o Misericordioso.”

Em outra súplica, ele costumava dizer:

“Ó Allah, Tu és o meu Senhor. Não existe Deus a não ser Tu. Tu me criaste e eu sou Teu servo, e Te obedeço por Teu pacto e promessa tanto quanto sou capaz. Eu busco em Ti refúgio do mal que faço. Para Ti volto pela Tua misericórdia para comigo, e para Ti eu volto com meus pecados, então, perdoa-me, porque além de Ti não há quem perdoe os pecados.

Precisamos da ajuda de Allah até mesmo para adorá-Lo. Assim, rogamos que Ele nos ajude. Ele é o Único de quem deve-se buscar ajuda, incluindo a ajuda para adorá-Lo. Isso não quer dizer que não podemos pedir que alguém nos ajude na mudança para uma casa nova! A "ajuda" citada no versículo é aquela sobrenatural. Para deixar mais claro, quando você leva seu filho doente à emergência, você deve pedir apenas a Allah para ajudar seu filho, não a um santo morto ou um anjo da guarda.

6. Guia-nos à senda reta

Os seres humanos, por natureza, são fracos. Hoje eles estão perto de Allah, amanhã eles se tornam distantes. Nessa súplica, um muçulmano pede a Allah para mantê-lo forte, para mantê-lo guiado no caminho reto. O muçulmano repete esse pedido em cada salah (oração ritual). Sempre existem aqueles que são melhores que nós na escada espiritual. Um muçulmano deve se esforçar continuamente para subir a 'escada' e aproximar-se do Senhor do Poder, aumentando sua paciência, suas boas maneiras e a prática do Islam. Especialmente, os novos convertidos no Islam, realmente precisarão dessa oração em sua jornada. Um muçulmano deve aprender e descobrir o que Deus quer dele a cada passo da vida e realizá-lo com uma intenção pura.

7. À senda dos que agraciaste; não à dos incursos em Tua ira nem à dos descaminhados.

Esse versículo é uma continuação do verso anterior. Está respondendo à pergunta ... 'exatamente em que caminho devo estar?' Meus pais, parentes, amigos, compatriotas ... de quem??

A resposta é: aqueles que foram tocados pela graça divina. Quem foram eles? Eles são identificados em outra passagem do Alcorão:

“E quem obedece a Allah e ao Mensageiro, esses estarão com os que Allah agracia: os Profetas e os veracíssimos e os mártires e os íntegros. E que belos companheiros esses!” (Alcorão 4:69)

O Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse:

“Os judeus são aqueles que mereceram a ira de Allah e o cristãos são aqueles que se desviaram.”[1]

Essas são as pessoas que conhecem a verdade e ainda assim a abandonam, incluindo os judeus[2] e outros. Isso não deve ser tomado como licença para o antissemitismo.

Primeiro, a ira de Allah não está restrita aos judeus. Por exemplo, Allah diz, a respeito de se tirar a vida de um inocente:

“Se um homem mata um crente intencionalmente, sua recompensa é o inferno, permanecer nele, e a raiva e a maldição de Allah estão sobre ele.” [Alcorão 4:9]

Segundo, a ira divina é para aqueles que não foram guiados pelo caminho reto, não por falta de conhecimento, mas seus vãos desejos os impediram de segui-lo. Como qualquer estudante do Antigo Testamento sabe, os rabinos judeus possuíam conhecimento, mas não agiram sobre ele e tiveram a maior influência na mudança da religião Mosaica. Da mesma forma, um estudioso muçulmano, ou, aliás, qualquer um de nós que tenha conhecimento, mas não aja sobre ele, também se assemelha aos judeus nesse assunto. Parte de ser “guiado” é ter uma firme resolução de fazer o que é certo e abandonar o que está errado. O Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, disse:

“Um homem será levado no dia da ressurreição e lançado no fogo do inferno. Seus quadris serão vertidos ao fogo e ele o contornará como um burro gira em torno de um moinho. Os habitantes do inferno se reunirão à sua volta e dirão: Qual é o seu problema? Você não costumava nos ordenar o que é certo e proibir-nos de fazer coisas erradas? ”Ele responderá:“ Eu costumava ordenar-lhe o que é certo, mas eu mesmo não o fazia, e costumava proibi-lo de fazer coisas erradas e depois fazê-las eu mesmo..”[3]

Esse homem tinha conhecimento. Ele sabia diferenciar o certo do errado. Mais que isso, ele ordenava o que é certo e proibia o que é errado. Mas, como ele não agiu de acordo com seu conhecimento, recebeu o castigo.

Terceiro, ilustrarei o ponto com um exemplo. Vamos pegar algo básico. Os dez mandamentos são a pedra angular do judaísmo. Guardar o sábado é a observância ritual mais importante do judaísmo, a única instituída nos dez mandamentos. Segundo a própria Bíblia, os judeus foram ameaçados, punidos[4], e ganharam a ira divina[5] por violá-la. No Islam, a sexta-feira é o dia mais sagrado da semana e um salah especial (oração ritual) é realizado para marcá-la. A sacralidade da sexta-feira, estabelecida por Allah, é bem conhecida entre os muçulmanos. Alterá-la por qualquer motivo para outro dia seria análogo aos judeus, que violavam o sábado. Isso estaria corrompendo conscientemente uma observância ritual divinamente definida.

“…à dos descaminhados.”

Essas são as pessoas que abandonam a verdade por ignorância, como os cristãos e outros. Esses últimos estão perdidos por ignorância. Isso não significa que a obstinação não se desenvolveu subsequentemente dentro deles, depois que alguns deles ultrapassaram a marca da ignorância. Essas são as pessoas que adoram, mas o fazem sem conhecimento. Um muçulmano que adora a Deus baseado na ignorância sem autoridade textual se assemelha aos cristãos, por assim dizer. Por exemplo, o culto católico é oferecido até a objetos inanimados, como as relíquias de um mártir, a Cruz de Cristo, a Coroa de Espinhos ou até a estátua ou gravura de um santo. Outros cristãos usam bandas de rock ou cantam como adoração. Muito diferente disso, Jesus nunca adorou a Deus com música, cantando hinos ou venerando a cruz! Uma "imitação" análoga por um muçulmano, não importa quão bem-intencionada, seria usar música e cantar canções devocionais como adoração, já que o Profeta Final não adorava Allah dessa maneira. O Profeta Muhammad expôs claramente como Deus deve ser adorado; não é permitido desviar-se minimamente disto.

Pedimos a Allah que sejamos 'guiados' pelo caminho reto, o caminho dos profetas e de seus seguidores virtuosos e, de maneira a nos alertar para que não sigamos o mesmo caminho, oramos que não sejamos como o primeiro grupo que falhou em agir de acordo com o seu conhecimento ou com o segundo grupo que não o adquiriu.



Notas de Rodapé:

[1] Tirmidhi, Musnad de Ahmad, e Ibn Hibban. Citado por Muhammad Sayyid Tantawi, Grand Imam da al-Azhar sua exegese, ‘Tafsir al-Wasit.’

[2] O que é um judeu e o que é judaísmo? Essas são perguntas complexas, porque muitas pessoas hoje que se chamam judeus não acreditam nessa religião! Mais da metade de todos os judeus em Israel hoje se chamam "seculares" e não acreditam em Deus ou em nenhuma das crenças religiosas do judaísmo. Metade de todos os judeus nos Estados Unidos não pertence a nenhuma sinagoga. Eles podem praticar alguns dos rituais do judaísmo e comemorar alguns feriados, mas não consideram essas ações como atividades religiosas. De qualquer forma, os verdadeiros seguidores dos profetas hebreus que começam com Moisés estão livres de culpa, pois não distorceram seus ensinamentos religiosos originais. Para nossos propósitos, um "judeu" é um crente no judaísmo que não segue as crenças e práticas originais instituídas pelos profetas hebreus, mas talvez aos rabinatos e seus conselhos. Deus sabe melhor.

[3] Bukhari, Muslim

[4] Ele destruiu Jerusalém por sua violação (Jeremiah 17:27).

[5] “'Mas também os filhos se rebelaram contra mim, e não andaram nos meus estatutos, nem guardaram os meus juízos para os fazer, os quais, cumprindo-os, o homem viverá por eles; eles profanaram os meus sábados; por isso eu disse que derramaria sobre eles o meu furor, para cumprir contra eles a minha ira no deserto.” (Ezequiel 20: 21; Nova Versão Internacional)

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